segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Morte não é anomalia, anomalia é não pagar a renda de casa



A morte de José aconteceu em Poissy.

Poissy lembra imediatamente Peugeot, o grupo PSA Peugeot Citroen. Uma cidade na cidade: 180 hectares onde se fabricam 1500 automóveis por dia, onde trabalham 12 mil assalariados.
Ao redor, as torres e as bandas de alojamentos sociais HLM para os operários da fábrica, desterrados dos quatro cantos do mundo. De premeio muitos imigrantes portugueses.
Poissy é um recanto industrial pardacento situado a 30 km de Paris que lembra imediatamente os emigrantes portugueses atrelados dia e noite as cadeias de montagem automóvel.
A morte do José aconteceu em Poissy. José Gomes Macedo, 62 anos. Pelos vistos não trabalhava na Peugeot, mas nas obras. Era um operário reformado da construção civil.
Vivia sozinho, abandonado de tudo e de todos. “Era um homem discreto, falava pouco e ouvia mal”, disse à imprensa um vizinho de origem magrebina, habituado a trabalhar com outros portugueses. Alertados por um telefonema anónimo, os bombeiros foram encontrá-lo sentado num cadeirão. Estaca mumificado. Morto há mais de dois anos, sem que alguém desse por ela. Os vizinhos bem se tinham queixado que cheirava mal no patamar do andar. Mas, ora ora! Isso de cheirar mal no patamar de uma banda HLM para emigrantes … num arrabalde da cidade … não interessa nem ao menino Jesus. Depois, com o tempo, o mau cheiro acabou por desaparecer … a família daí e daqui, habituada ao silêncio, não estranhou … um silêncio a mais ou a menos, qual é a diferença? Para pouca sorte do José, o homem era um bom pagador. A renda, paga por transferência bancária automática, caía certinha nas caixas do gestor do grupo imobiliário social da cidade. De modos que tudo batia certo.
Não havia, portanto, anomalia com o José. Anomalia só há com aqueles que não pagam a renda. Então sim, a pessoa poderá alarmar a sociedade. Vivemos uma época formidável!
Aconteceu em Poissy a meados do mês de Outubro de 2009.

MV

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