segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O capitel

Não se sabe ao certo quando António perdeu a coluna vertebral. A versão oficial justificou a venda do órgão, ou melhor, do osso (e suas ramificações) para custeio das quotas do partido. E o custeio é sempre um motivo válido, sobretudo o de um partido. Por seu turno, a versão lateral – talvez menos rigorosa, mas não desprezável de todo – pôs a circular um motivo etrusco. A disse a b que tinha ouvido de c que ouvira de d em conversa com e, quando este se fazia acompanhar de f que fora tudo devido a um dilema. António depois de muito pensar, e António via virtude no pensamento, achara falta de aplicação do osso (e suas ramificações) na anatomia. E se podia fazer bom negócio, e para mais de forma lícita, porque não vendê-lo no mercado negro onde nem os falos empalhados de aborígenes chegavam a tão elevada quantia? Com o tempo esta versão implantou-se e passou aos anais, onde foi muito bem-vinda, tendo um revisionista anotado, em síntese, que a coluna de António, depois de descoberta num altar da ilha de Gozo, lhe lembrava um capitel carolíngio de tão enfezada e carcomida.


Tiago Salazar

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